segunda-feira, 23 de junho de 2014

Alto Mar


- A maré está está muito forte senhor, já não há forças suficientes para remar!
- Largue os remos.
Deite sobre o barco, observe a paisagem, sinta a brisa, e aguarde até que o vento nos conduza a algum lugar.
- Mas senhor, desta forma estaremos perdendo tempo, e não saberemos nem ao menos onde os ventos levarão nosso barco, perderemos então a viagem, bem como tudo o que planejamos sobre a mesma!
- Você está errado marujo. Não há viagem, nem mesmo tempo perdido, quando deixamos que o vento conduza nossas velas e corações; Se a maré está difícil, não force os remos, nem canse seus braços; não há porto que seja seguro quando não há leveza na navegação.
Aproveite toda beleza que este novo destino te proporcionará, anote em seu diário de bordo todas as possíveis experiências adquiridas, sejam elas boas ou ruins e lembre-se, aprendizados são sempre válidos, sempre! Não dê tanta importância a atrasos, itinerários ou mudanças de rumo, você já teve a coragem de se lançar ao mar, quer ato mais audaz e corajoso?
Seu coração, sua bússola.

Que percamos os remos, para ancorarmos no paraíso.


Para ler ao som de...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A tempestade que chega é da cor dos seus olhos castanhos...



Olhar nos olhos virou coisa tão rara, que desperdiçar isso, chega parecer coisa de louco; Morrer de amor ou viver de pudor?

Quando é mesmo a hora de passar a régua, preservar o que há de bom e trancafiar as lembranças naquele bauzinho empoeirado, que sabe-se lá onde anda a chave, se é que ela ainda existe. Não se sabe.
E essa ampulheta que não para, ou ao menos desacelera, para que vivamos entre pequenas pausas de realidade, e instantes de lucidez?
Essa coisa de que o tempo não para para que você o conserte, é fato, o que não tem conserto, fica para trás. Afinal, faz-se complicado jogar futebol com uma bola furada, beber água em um copo quebrado, ou até mesmo escrever com uma caneta sem tinta; pois por mais que a bola tenha sido seu melhor e mais significativo presente de natal, que aquele copo o tenha acompanhado desde a infância, trazendo-lhe boas e doces recordações; ou até mesmo que aquela caneta tu tenhas ganho da professora mais querida, na formatura de oitava série, torna-se impossível preservá-los para sempre, torna-se imprescindível abdicar de certas coisas, ainda que muito estimadas, embora isso nos pareça tão dolorido.
Algumas escolhas são tão significativas, que nos levam parte da alma, com elas se vão saudades, afagos, se vão partículas de uma história, que espalharão por aí, plainando levemente, até onde o vento achar que deva guiá-las.
Triste? De certa forma. Tudo que é bom, mas fica pelo caminho, se torna triste, não há boas lembranças que tragam de volta bons tempos ou grandes sentimentos, lembranças são feitas para lembrar, sentimentos existem para se sentir, e isso, infelizmente, não há nada que possa mudar.

"Então me abraça forte, e diz mais uma vez que já estamos, distantes de tudo;
temos nosso próprio tempo, não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas."

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Da reciprocidade...

 "A pintura é poesia sem palavras."
Voltaire
"Você está diferente'' - disse a pessoa que a fez mudar. E um olhar cabisbaixo parecia expressar tudo aquilo que se passava dentro daquele coração cansado e bobo. Olhou rapidamente para o lado, não queria revelar assim, tudo o que há tempos vinha a sentir; ele então trocara de lugar , buscou seu olhar e novamente questionou: "Você está diferente". Agora, olhara para baixo, e a vontade era de enfiar a cabeça no chão, para que não pudessem interpretar o que estava se passando, para que a deixasse ali com seus sentimentos e pensamentos tolos. Queria esquecer. Queria lembrar. Queria esquecer novamente. Nem sabia o que queria e se de fato ainda queria. Ficaram em silêncio por alguns minutos, o olhar era covarde demais para que pudesse encarar aqueles olhos tão doces, porém tão vazios; as palavras vinham até a boca, mas não se libertavam, tão pouco permitiam-se, arredias, voltavam para a garganta, e assim formavam uma bola de neve dentro do peito. 
Respirou fundo e enfim dera as costas, talvez com a intenção de que viesse atrás, que a chamasse de volta, que gritasse ao menos aquela vez por seu nome. Caminhava devagar e sem um rumo certo, o passo era lento e pesado, o corpo comandava, e a alma, sabe-se lá onde andava.
 Pensou diversas vezes em olhar para trás, não conseguira. Pensou em gritar, no mesmo tom em que os sentimentos gritavam dentro de si, quem sabe assim a ouvisse, ou até mesmo entendesse tudo aquilo que a tanto tempo lhe secava a garganta e apertava o peito.
"Você está diferente", foi a única frase que ouvira o caminho inteiro, inúmeras e repetidas vezes, cada vez que a mesma se repetia, pensava: "E você, não esteve indiferente esse tempo todo?"- lembrava das inúmeras conversas jogadas fora, dos olhares não correspondidos, daquele tremor nas pernas e frio na barriga todas às vezes que o via; do tempo que levava ao escolher a roupa adequada antes de se encontrarem, ou de quantas vezes olhou-se no espelho, mudou o cabelo, ensaiou o que falar e como falar...em vão.
Sempre ouvira muito e falara pouco. Sempre sentira muito. Sempre sentira só. Foram tantas as vezes que sonhara e acordara com o desejo de voltar a dormir, para que assim quem sabe, pudesse também voltar a sonhar. Foram tantas as vezes que desejou sair do sonho e de fato realizar. 
Mas não, não houve se quer vontade de responder a aquela dúvida afirmativa, era tudo tão óbvio, não haviam razões para se explicar, há situações que realmente não precisam ser explicadas. Seguiu caminho, seguiu a vida, abraçou o destino, sem precisar tirá-lo do sonho.

Se para bom entendedor, meia palavra basta,  para um coração perspicaz meio sentimento está de bom tamanho.
         É uma pena que nem todos os corações sejam perspicazes.


Acho que é tempo de desistirmos
E descobrir o que está nos impedindo
De respirar facilmente e conversar direito
O caminho é claro se você está pronto agora
O voluntário está se acalmando
E tirando um tempo para salvar a si mesmo


Achei lindo demais esse poema do meu amigo Gilmar Teixeira

Fevereiro 02, sábado ainda

Não tenho certeza de nada
Ando destemperado
Exposto à luz da alma

Não tenho certeza de nada
Encontro cadeados sem chaves
Perdidos à beira da estrada

Não tenho certeza de nada
Sinto a garganta apertada
Te aprecio em vão

Não tenho a certeza de nada
Se sou muitos
Se sou multidão

Não tenho a certeza de nada
Apenas tenho mais sorte
do que razão

certezasorterazãocerteza

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Se você me quer...



                     "Do outro lado da rua havia uma loja de discos. O alto-falante tocava música pra mim. Tudo parecia tão calmo e tranquilo lá fora. Ficava ali parado, de pé, tentando lembrar o que poderia ter feito. Sentia vontade de chorar, mas não saía lágrima alguma. Era só uma espécie de tristeza, de náusea, uma mistura de uma com a outra, não existe nada pior. Acho que você sabe o que quero dizer. Todo mundo, volta e meia, passa por isso. Só que comigo é muito frequente, acontece demais." 
Charles Bukowski




                                                                                                                   If You Want Me

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida, na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais...


             E o domingo amanheceu triste. Nossos corações apertados. Nossas almas tristes. Em dias como estes, não se tem vontade de fazer muita coisa, o corpo se move, mas a cabeça paralisa, não consegue acompanhar; A gente fica meio zonzo, são muitos pensamentos, reflexos, lembranças, suposições... Quem no dia de hoje não se pôs no lugar de algum daqueles jovens? Quem não lembrou de alguma vez que a mãe tenha ligado pra saber se estava tudo bem, ou a que horas chegaríamos em casa; quem já não ouviu: "Leva um casaco, pode esfriar", "Se beber, venha de táxi pra casa". Sim, são frases um tanto repetitivas, sim, este texto é clichê. Não, não é um texto apelativo, muito menos estou engajada em alguma "campanha" de alerta aos jovens, tão pouco escrevo para dar lição de moral em alguém; Apenas reportei-me a todas essas ocasiões também já vivenciadas por mim. Apenas me entristeci diante de tal catástrofe. Meu peito esteve doído durante todo esse dia 27 de janeiro, um aperto tão grande capaz de causar nó na garganta e uma vontade demasiada de chorar a qualquer momento. Não conhecia nenhuma das vítimas, tão pouco suas respectivas famílias, estive poucas vezes em Santa Maria, e conheço pouco a cidade também; Mas pude sentir daqui, a tantos quilômetros de distância, tamanha dor e angústia sentida por todos aqueles que tiveram o coração dilacerado por todas essas perdas absurdas e irreparáveis. Fico me perguntando, e agora, como vai ser? Como esses pais órfãos tão prematuramente de seus amados filhos, continuarão a viver? Quisera nós, pudéssemos abraçar cada pai, mãe ou irmão neste momento, quem sabe diminuir um centímetro de dor, ou pelo menos poder olhar nos olhos destas mesmas pessoas e dizer "eu sinto muito!"
 Vos digo, me de dói pensar sobre isso, embora seja inevitável.
Não sinto vontade de reclamar de nada, nem de ninguém, apontar culpados neste momento, pra que? Reclamar por que uns sentem menos, e outros mais, pra que? Entendam, as pessoas são diferentes, os sentimentos são diferentes.  Há quem se importe com o adiamento de determinada festa, que se limite a pensar que esta lamentável situação não tenha relação alguma com tal evento, que a vida segue e que não há motivos para "interferir" na vida de outras tantas pessoas por algo que já aconteceu; Mas há também, os que passaram o domingo inteiro consternados diante de tal tragédia, que dormiram mal, acordaram mal, seguiram sim suas vidas, porém abalados, encolhidos e tristes. Estes, assim como eu, não estão dando importância para a casa que haviam reservado na praia, nem para as férias que foram programadas justamente para próxima semana, devido aos supostos eventos; estes, não vêem a mínima graça em festejar um inicio de fevereiro, quando o fim de janeiro fora tão triste. Estes, estão doídos com a dor do outro. 
A gente sente sim, muita indignação por tudo isso, se questiona, tenta entender, não vê coerência nos fatos; sente uma imensa revolta por tamanha injustiça. Irresponsabilidade de alguns, negligência de outros, insensibilidade de muitos...não há palavras ou sentimentos que cheguem a tempo. Não há lógica, nada ameniza, há dores que são incuráveis, feridas que são para sempre.
 Serão sorrisos nunca mais vistos, abraços nunca mais sentidos, e assim a vida vira lembrança, e as lembranças por sua vez, viram saudade.

27/01/2012, dia em que a Terra amanheceu cinza e o céu cheio de luz.

Muita força, muita paz...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Das tentações...

"Se chorar, chorar é vão, porque os dias vão pra nunca mais..."


E a gente tenta...
Tenta ser feliz e fazer os outros felizes
Tenta fazer ninguém chorar e não deixar ninguém te ver chorar
Tenta não deixar o creme dental cair da escova de dente, e tenta nunca esquecer de levar a mesma
Tenta parecer menos bobo diante de quem se gosta, e tenta ser a gente mesmo diante dessa pessoa.
Tenta segurar o riso quando não se pode rir, e tenta rir daquela piada tão sem graça que seu amigo contou.
Tenta ser mais paciente com o seu cachorro que roeu os fones de ouvido, e tenta não mimá-lo tanto de vez em quando...
Tentar ver menos Tv e ler mais livros, e acaba lendo mais Tv e assistindo esses mesmos livros jogados pela estante.
Tenta reclamar menos de coisas tão pequenas, e acaba amargurando um dia inteiro,por ter enfiado o pé na poça d'água.
Tenta ter mais tempo para si, e tenta saber o que fazer com esse tempo vago.
Tenta parar de reclamar do frio, do calor e tenta falar mais sobre borboletas e ursos polares.

E a gente tenta entender e se entender...
e se pergunta o por quê de algumas pessoas simplesmente, não tentarem!